domingo, 3 de novembro de 2013

Panorama 2013 - A Vida de Jesus

(La Vie de Jésus, França, 1997) Direção: Bruno Dumont. Com David Douche, Marjorie Cottreel, Kader Chaatouf.


Por João Paulo Barreto

A referência inserida no título do filme de estreia do cineasta francês, Bruno Dumont, não se faz de modo explicito ou, poderiam afirmar alguns religiosos, leviano. A Vida de Jesus é, na verdade, um filme acerca do martírio. Não um martírio consciente e libertador como o exibido na história do revolucionário contada na Bíblia, mas um martírio e autoflagelação que visam única e exclusivamente substituir pela dor o espaço ocupado pela raiva e frustração.

Fred é um jovem desempregado que abandonou a escola e vive com sua mãe, no sul da França. Passa seus dias vazios a vagar pela cidade apostando corridas com seus amigos em motocicletas baratas e roubadas tentando esquecer o fato de que é um epilético. Quando acontece de ter um ataque da doença em frente à Marie, sua namorada nua, e/ou em frente aos seus amigos na rua, constata ainda mais que pouco em sua vida faz algum sentido. Vivê-la em seus dias de frio e tédio frustrante não é uma opção.

Fred e seus amigos: existências inúteis  
Fred vive a se flagelar. Seja ao pilotar feito um suicida sua moto, ou quando causa propositalmente acidentes que maculam seu corpo. A vida do jovem parece não seguir um sentido comum.  A única certeza que parece ter é a de que ama Marie, mas até mesmo esta soa infantil, como fruto de algo a que ele quer se agarrar como para não perder o único direcionamento que sua existência vazia possui.

Bruno Dumont apresenta em A Vida de Jesus uma obra sobre a desesperança. Uma história em que a rotina de um mundo fútil (vide como os jovens se empolgam com manobras arriscadas de um carro em via pública) e de busca de significados inúteis para dias vazios maculam não somente o corpo de Fred, mas, também, sua mente. Nos poucos momentos de paz interior, toca sons de pássaros para o que mantém em uma gaiola. É um jovem em franca decadência que, a partir do sua ignorante xenofobia e ciúmes doentios, cometerá um ato precipitado do qual não conseguirá jamais escapar.


Ao final, ao vê-lo deitado na vegetação suave de um campo, a percepção de seu arrependimento torna-se palpável. Fred conseguiu causar a si mesmo um flagelo que não deixará somente marcas cicatrizáveis, mas chagas que vão refletir em vidas alheias e inocentes de seus atos. 

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