segunda-feira, 6 de maio de 2013

Renoir


(França, 2012) Direção: Gilles Bourdos. Com Michel Bouquet, Christa Theret, Vincent Rottiers, Thomas Doret.



Por João Paulo Barreto

Em Renoir, longa que lança luz no período final da vida do pintor francês, o diretor Gilles Bourdos escolhe a exuberância da Riviera Francesa em 1915 para ilustrar o calor e as cores das pinturas de um mestre. E que decisão acertada. A fotografia de Mark Ping Bing Lee (o mesmo das cores quentes de Amor à Flor da Pele, de Wong Kar Wai) cria um ambiente cuja tristeza da história não encontra ecos em suas imagens. A ambientação do lugar é, na verdade, uma extensão das obras de Renoir, uma vez que ele se tornou conhecido pela prioridade impressionista dada à forma, seja essa a de um corpo feminino ou uma paisagem.

Abrindo mão do já combalido artifício de utilizar diferentes paletas de cores para representar a tristeza ou a alegria dos personagens, Bourdos cria um rico conflito de percepção no espectador. Encantada por toda aquela beleza natural e inspiração do artista, a audiência não possui como guia a decadência física do lugar para guiar sua percepção de dor e tristeza. Todo o tormento e dor física trazidos pela terceira idade de Renoir (que sofria de artrite, doença que lhe causava dores absurdas) acabam por contrastar duramente com a beleza daquele ambiente, o que os torna ainda mais impactantes.

Cores quentes e vivas em contraste com a tristeza fria dos personagens
Preso em sua cadeira de rodas, o artista (interpretado pelo veterano Michel Bouquet) acaba por se tornar dependente de todos os cuidados das mulheres que vivem em sua propriedade. E a sua amargura chega ao ápice por se perceber impedido de continuar seu trabalho. Ao requisitar os serviços de uma modelo que viria a se tornar sua musa, o homem encontra nesta uma fonte de desabafo. E é através dessa relação que ficamos sabendo sobre suas mágoas para com a vida e arrependimentos para com a família.

Com dois de seus filhos marcados pela guerra (um deles, aquele que viria a se tornar o renomado cineasta Jean Renoir), o drama da vida do pintor centra-se na percepção do fim. Ele sabe que seus dias estão se findando. E o que é mais relevante: ele sabe que apenas a beleza de suas obras permanecerá. E essa consciência de que seu corpo efêmero passará, mas não o que foi criado por ele, é o que o move nessa jornada final de sofrimento físico. “A dor passa, a beleza permanece”, salienta o homem de mãos deformadas a contrastar com a beleza da pele aveludada de sua modelo. Ao observarmos a linda Christa Theret desnuda como a musa Andrée Heuschilig e o resultado daquela inspiração ilustrado por pincéis, percebe-se o quão verdadeira é esta declaração.

O mestre e sua musa
E toda essa beleza é brindada pela tocante trilha sonora de Alexandre Desplat, um dos mais prolíficos compositores do cinema atual. O equilíbrio encontrado entre as imagens fotografadas por Lee e a união destas com a partitura de Desplat eleva a compreensão desta obra de uma forma cuja valorização dos momentos de tristeza se mescla com a beleza das cores nas cenas criadas por Bourdos.

E a constatação é plena: a beleza, de fato, permanece. 

2 comentários:

  1. Belo texto, João! Dá uma vontade danada de ver o filme!

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  2. Desplat, André... Desplat. O homem inspira qualquer um. E, claro, Christa Theret... =D

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