segunda-feira, 24 de julho de 2017

Baby Driver

(EUA, 2017) Direção: Edgar Wright. Com Ansel Elgort, Lily James, Kevin Spacey, Jon Hamm, Jamie Foxx, Jon Bernthal.


Por João Paulo Barreto

Imagine-me escrevendo esse texto no mesmo ritmo contagiante que o personagem de Ansel Elgort, o Baby do título, demonstra em sua empolgação dançante, cantando ao som da Jon Spencer Blues Explosion durante a primeira cena do longa. Pois é. Essa é a sensação que um crítico tem ao sentar-se para traçar algumas linhas acerca de um filme como este. Não somente pelo ritmo acelerado de sua montagem nas cenas de ação ou de sua trilha sonora inspiradíssima. Todos estes elementos já são comuns em diversos trabalhos que tentam criar uma roupagem cool para cativar adolescentes. No entanto, um elemento diferencia Baby Driver de qualquer outra obra que tente criar esse mesmo tipo de ambiente. Tal elemento diferencial se chama Edgar Wright.

Aqui, Wright traz sua perícia na criação de narrativas econômicas a níveis semelhantes aos vistos em obras como Chumbo Grosso ou Todo Mundo Quase Morto, exemplos de montagens nas quais o diretor optou pela criação de elipses inventivas (observe a mudança do personagem Simon Pegg de Londres para o interior da Inglaterra no primeiro ou na já clássica utilização do zapear da TV como modo de explicar o apocalipse no segundo) e de fusões de cena que criam um ritmo único em suas obras.

Baby pronto para fazer o que faz de melhor
No caso de Baby Driver, o fiapo de história envolvendo um motorista de fugas para ladrões de bancos utiliza-se de diversos destes momentos. O ritmo do filme é criado não somente pelas obrigatórias (e fantásticas) sequências de perseguição, afinal, esta é a sua premissa principal, mas, também, pelas brincadeiras que o diretor, junto aos seus montadores Jonathan Amos e Paul Machliss, criam ao ligar os cortes em fusões surpreendentes de cenas, como quando a tampa de um copo de café leva a um botão de elevador, quando as letras das canções complementam visualmente o longa ou quando o cineasta volta a brincar com o mesmo artifício de usar sons da TV para influenciar falas de personagens.

Visualmente, alias, o trabalho de Edgar Wright geraria tópicos de análise para toda essa crítica, principalmente quando vemos a bela estética em situações como quando dois personagens escutam uma música dentro de uma lavanderia e os movimentos circulares das máquinas com roupas coloridas a representar a alegria daquele momento desenham um retrato belíssimo do cuidado da produção. Ainda em relação ao seu visual, o filme se esmera na sua economia narrativa, como quando vemos Baby adentra em uma pizzaria que busca por entregadores e, em questão de segundos, já sai pela porta dos fundos em seu uniforme e pronto para o trabalho. Do mesmo modo, quando este encontra a sua paixão pela primeira vez e ela parece entrar no cenário a flutuar, representando seu impacto romântico no protagonista, e, logo em seguida, reaparece em sua versão palpável.

Doc (Spacey) explica ao grupo as regras do assalto: todos confusos com Baby
No aspecto trilha sonora, pode-se dizer que Tarantino encontra em Wright um “rival” à altura no quesito de escolha de um soundtrack matador. Some a isso o fato de que suas canções, além de fazerem parte de modo externo e diegético do filme, servem como elementos de brincadeira para o diretor, quando este utiliza as suas batidas em ritmo paralelo ao som dos tiros disparados pelos personagens em certos momentos.

Resta falar da química entre seu grupo de personagens, que traz um Kevin Spacey destilando ironia com apenas 10% da crueldade de Frank Underwood (o momento em que ele reconhece uma referência de Monstros S.A. define bem), Jon Hamm deixando de lado qualquer traço da classe de seu Don Draper quando vemos seu personagem evoluir de bad nice guy para crazy motherfucker e a presença um tanto irritante e caricata de Jamie Foxx como o real antagonista do mocinho Baby. 

Efeito Halloween: compreensível confusão com os Myers
E é tal química que gera os melhores momentos do filme, como quando, em um dos rompantes de irritação para com a postura blasé de Baby, um dos personagens começa tirar de seu rosto os óculos que, junto com os constantes fones, são suas marcas e ele, pacientemente, começa a substituí-los um a um. Ou quando o serial killer Michael Myers é confundindo com Mike Myers... 

Daquele tipo de sessão que te faz sorrir ao sair da sala de projeção.



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