terça-feira, 23 de agosto de 2016

Lolo - O Filho da Minha Namorada

(Lolo, FRA, 2016) Direção: Julie Delpy. Com Julie Delpy, Vincent Lacoste, Dany Boon.


Por João Paulo Barreto

Há duas formas de se analisar Lolo – O Filho da Minha Namorada. A primeira reside no fato da ineficiência da obra como comédia de costumes. Em seu roteiro, Julie Delpy até se esforça para criar boas piadas na abordagem do efeito da meia-idade em mulheres que já chegaram ao 45 anos. Isso é perceptível nas conversas que ilustram desde a falta de sexo passando pelos..., não, é somente sobre sexo que a personagem de Violette (vivida pela própria diretora) e suas amigas conversam.

O outro modo de abordagem do longa demonstra-se mais eficiente. Nele, somos familiarizados com o nível de sociopatia que a dependência materna exagerada pode causar em um adulto (quase adolescente ou quase criança, se analisarmos bem) de vinte anos. Na realidade, o filme se concentra em uma série de momentos nos quais o espectador testemunha as doentias tentativas que Lolo (vivido por um irritantemente blasé Vincent Lacoste) tem de prejudicar a vida de Jean-René, o novo namorado de sua mãe, Violette.

Jean-René é avaliado por Lolo
Neste aspecto, como uma obra que se propõe a discutir justamente essa ideia de filhos adultos dependentes emocionalmente de seus jovens pais, Lolo consegue gerar uma boa reflexão no espectador. No entanto, apesar do tema bastante rico, o filme acaba sendo prejudicado pelo seu insistente tom de comédia, no qual os constantes planos infalíveis do rapaz na missão de destruir a vida do simpático Jean-René tornam o tempo do filme algo meramente episódico, fazendo o espectador apenas se perguntar qual será o próximo ato sádico que vamos testemunhar.

Apesar disso, não seria justo com os momentos de graça da obra não admitir as risadas proporcionadas pelas conversas entre Violette e suas amigas. O papo sobre sexo oral durante sua viagem de trem ou a discussão acerca das teias de aranha geradas em certos lugares devido a falta de relações... sim, basicamente é somente sobre isso que elas conversam. Em certo momento, Violette comenta acerca do seu amadurecimento, pois está aprendendo a cozinhar outros pratos para o namorado, algo que é observado de modo pertinente por Lolo como algo que envergonharia as feministas. Digamos que concentrar os diálogos de suas personagens apenas em temas relacionados a sexo não as enriquece de modo muito eficiente, tampouco.

Violette e as manipulações disfarçadas de seu filho sociopata
Após diversas (quase) esquetes e testes de paciência do espectador diante das tentativas de sádicas de Lolo, o filme acaba por se encerrar de modo até reflexivo, com um foco centrado justamente na condição dependente e doentia do personagem título, quando a máscara cai e Violette percebe o quase psicopata que criou.

Certo peso no fechamento de uma narrativa ineficiente, mas que não remedia a fragilidade de seu desenvolvimento.


Nenhum comentário:

Postar um comentário